segunda-feira, 30 de julho de 2007

Regras da Arqueologia


Saudações, senhoras e senhores.

Talvez este início de texto seja, para os alunos de pré-história e arqueologia da UFRN, um pouco mais familiar e compreensível pois, utilizando como exemplo as aulas de campo ministradas pelo Prof. Dr. Walner Barros Spencer, apresentarei uma situação que explica algumas das regras mais conhecidas entre os alunos do já citado professor: não tocar em nada; deixar tudo exatamente como está!


Estas duas regras possuem uma finalidade que foge e extrapola à ideia de mera organização. Tais regras visam preservar a integridade de todo e qualquer achado arqueológico. Não que o toque venha a quebrar um artefato lítico ou um caco de cerâmica ou faiança. Embora esta ameaça possa existir, em maior ou menor grau, o exercício do não tocar tem como objetivo educar os prospectivos historiadores e arqueólogos. O motivo é simples: a alteração dos testes de datação.

Em 1988 a Santa Sé autorizou os primeiros testes de datação radiométrica do sudário, segundo o método do carbono-14. Foram colhidas três amostras que foram entregues a três laboratórios independentes:Universidade de Oxford (UK), Universidade do Arizona (EUA) e o ETH Zürich (Suíça). Todas as análises revelaram idades entre os séculos XIII e XIV, mais concretamente no intervalo 1260-1390. Apesar dos resultados serem claramente posteriores ao século I, a variação que apresentam merece explicação. Foi pedida autorização ao Vaticano para efectuar mais testes mas, até à data esta pretensão tem vindo a ser recusada com o argumento de que a colheita de mais amostras podem danificar a peça.



A datação radiométrica por carbono-14 é uma metodologia bastante precisa quando aplicada a materiais com menos de 2000 anos de idade. Existem, no entanto, várias fontes de erro que podem induzir resultados duvidosos. Muita da polémica alimentada pelos defensores e opositores da autenticidade do sudário foca as possíveis fontes de erros da datação. Um sumário dos argumentos contra e a favor é apresentado em baixo, na secção dedicada à controvérsia.

Os resultados da datação radiométrica são o argumento mais importante para a defesa da tese do sudário como falsificação, bem como a conclusão obtida pelo estudo microscópico que demonstra que a imagem foi pintada com pigmentos ocres.

A datação do sudário foi contestada pelo argumento de contaminação bacteriana. Em resposta os cientistas que realizaram as análises de carbono-14 afirmam que excluíram a priori esta possibilidade e que o método é preciso. Um especialista neo-zelandês afirmou ainda que um erro de treze séculos devido a contaminação bacteriana é possível, mas implica uma camada de bactérias com o dobro da espessura do tecido, o que afasta esta teoria. O intervalo de resultados (1290-1390) é explicado pela influência do incêndio de 1532 e subsequentes tentativas (desastradas) de restauro.

A acusação de falsificação é tão antiga como o próprio sudário e foi lançada pelos arcebispos de Troyes contemporâneos da sua descoberta. Um deles, Pierre d’Arcis, escreveu mesmo ao papa detalhando os pormenores da impostura que considera ser uma forma ardilosa de roubar dinheiro de peregrinos piedosos. A missiva foi prontamente ignorada pelo papa, mas está de acordo com a idéia de que o sudário é uma pintura e com a datação de carbono-14.

Este talvez seja o maior e mais notório caso de um teste de datação por carbono 14 que fora comprometido. Com a descoberta e a validação das tecnicas de datação, uma das relíquias humanas de maior importância histórica, cultural e social, o Santo Sudário fora apresentada para que se fosse feita a datação. O resultado dos testes surpreendeu a todos: o Santo Sudário apresentou uma idade muitissimo superior à que esperavam. A comunidade católica ficou estarrecida com o resultado e a possível possibilidade de que esta relíquia, tão valiosa para a fé cristã, fosse uma fralde.

A origem da polemica que envolve o Santo Sudário gira em torno não da tecnica de datação em sí, mas antes no que pode ter ocorrido, antes, para que a datação não apresentasse uma conclusão próxima à realidade.

Não quero, com este exemplo, dizer se o Santo Sudário é ou não uma fralde, mas antes dizer que, por motivos simples como um toque de mãos, o toque da fumaça (quer de cigarro ou carros ou outra qualquer), bem como o contato com cinzas e outras substâncias diversas, a constituição química das relíquias podem ser alteradas ao ponto de modificarem os resultados dos testes de datação. Não tocar implica em não contaminar o achado, seja ele qual for.

Outro motivo pelo qual o historiador/arqueólogo não deve tocar os achados é o fato de que, movimentando-o, retirando-o do local onde fora encontrado, pode ser que todo o contexto existente no cenário, no ambiente da descoberta, seja destruído. O modo como são, por exemplo, encontrados os líticos no Parque das Dunas, poder apontar a organização dos homens pré-históricos na hora de confeccionarem suas ferramentas, bem como o que mais faziam por alí. Uma vez que os artefatos líticos são movimentados, todo o contexto do ambiente se perde e, com ele, perde-se também preciosas informações relevantes à compreenção do passado histórico e cultural destes nossos antepassados.

Não tocar, não mover, pode não ser regras escritas, mas com certeza são regras não-escritas que, em nome da Boa Arqueologia e da Boa História, devem ser seguidos e exercitados por todo e qualquer historiador/arqueólogo que leve seu ofício à sério.


OBS: Durante as aulas de campo, uma vez que a turma está acompanhada por um especialista, e tendo como objetivo principal um maior contato dos alunos com a parte prática da ciência História, haverá a possibilidade de que tais artefatos sejam tocados e retirados de seu local, todavia, isto é possível pelo simples fato de que tais artefatos já se encontram, quase todos, fora de seu local, devido a ação de pessoas que, desconhecedoras da importância que tais "pedras" representam, movimentam-na como se nada fossem. O ideal é que o IPHAN, juntamente com o DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA UFRN e o próprio MUSEU CÂMARA CASCUDO se unissem para preservar estes locais históricos, não somente os sítios, mas todo e quaquer patrimônio histórico do Rio Grande do Norte. O que acontece para que estas três entidades permaneçam omissas diante da destruição dos poucos indíssios do passado potiguar é um mistério, todavia, o mal que esta omição causa é irreparável, e quem sofrerá com isto não somos nós, mas a História e o nossos descendentes, que já não possuirão o que estudar e o que ser lembrado.

Vamos, pois, lutar pela preservação da História do Rio Grande do Norte.
Deixar a História de lado é virar as costas para a sabedoria do passado e ignorar os sinais que se repetem no futuro, fazendo do presente um eterno perpetuar da ignorãncia.

Um comentário:

Ísis Amarante disse...

vcs podem falar sobre a ilhas de salomao
obrigada
isis