segunda-feira, 30 de julho de 2007

ARQUEOLOGIA: Definições (parte 1)

"A arqueologia é uma forma de história e não uma simples disciplina auxiliar. Os dados arqueológicos são documentos históricos por direito próprio e não meras abonações de textos escritos. Exactamente como qualquer outro historiador, um arqueólogo estuda e procura reconstruir o processo pelo qual se criou o mundo em que vivemos - e nós próprios, na medida em que somos criaturas do nosso tempo e do nosso ambiente social. Os dados arqueológicos são constituídos por todas as alterações no mundo material resultante da acção humana, ou melhor, são os restos materiais da conduta humana. O seu conjunto constitui os chamados testemunhos arqueológicos. Estes apresentam particularidades e limitações cojas consequências se revelam no contraste bem visível entre a história arqueológica e a outra forma usual de história, baseada em documentos escritos." - V. Gordon Childe. Introdução à Arqueologia. Cap I, p 9.

Toda definição é uma limitação. Toda limitação é uma forma de poda, de modo que o que é limitado não pode ir além das limitações impostas. Muito embora estas verdades sejam perfeitamente válidas, uma ressalva precisa ser elaborada: para que se compreenda melhor algo, uma explicação, mediante uma diferenciação, se faz necessária. Para diferenciar a Arqueologia de outras ciências, como a História, ao mesmo tempo em que se fazem apontações e explicações sobre tais diferenças, a definição torna-se, por mais desagradável que seja, a única ferramenta apresentável, de modo que dela, neste momento, nos utilizaremos.

A Arqueologia é uma ciência recente, mas não é uma atividade recente. Assim como uma semente não é uma árvore em sí, mas antes o potencial de tornar-se uma árvore, a Arqueologia, em seu princípio, assim como toda e qualquer ciência, não era uma ciência em sí, contudo, era um potencial que, com o desdobrar do tempo, cria raizes, se fortalece, floresce e frutifica.

A Arqueologia é uma ciência humana, bem como também é uma ciência exata. A bem da verdade, ela transita no limiar destas duas convenções. Ela é humana pois trabalha com toda a subjetividade existente no estudo do ser humano, enquanto criatura cogniscente, que age e reage em sei meio ambiente natural, criando neste e a partir deste outros meios ambientes, de sí e para sí, conforme sua evolução, necessidades e mentalidade, entre outros fatores. Entretanto a Arqueologia também é uma ciência exata pois atua em nível extremamente tecnico no que tange suas observações, análises, relações e conclusões, agindo de forma analítica, prática, objetiva e científica na reconstrução do passado, conforme os indícios e informações coletadas dentro de um contexto, o qual é a base primal de todo e qualquer apontamento.

Outro fator importante que diferencia a Arqueologia das demais ciências é que ela, dentro de suas mais variadas tecnicas, atua como um elo de ligação entre diferentes e, muitas das vezes, conflitantes ciências, quer sejam estas humanas ou exatas. Alia-se à Arqueologia ciências como a Química, a Biologia, a Física, a Bio-medicina, a Geografia, a Geologia, a Ecologia, a Botânica, a Geo-morfologia, a Antropologia, a Psicologia, etc. Como a Arqueologia ainda é uma ciência nova, não foram esgotadas as aplicações das mais variadas ciências existentes, pois, como é de conhecimento geral dos acadêmicos, a cada novo passo do homem, novas descobertas surgem e, a cada nova descoberta, conhecimentos outrora seguros caem por terra e, no lugar destas, novas "verdades" se elevam e se firmam, até serem confirmadas ou abjuradas por novas descobertas.

Ao contrário do que muitos imaginam, um arqueólogo não é obrigado a conhecer tudo sobre tudo. Níveis profundamente tecnicos, e de conhecimentos específicos, podem ser ofertados pelas ciências das quais nascem e fazem parte, como é o caso dos testes de datação por Carbono 14, por exemplo. Todo Arqueólogo é, por excelência, um Historiador, mas nem todo Historiador é um Arqueólogo. A Arqueologia nasce da e ná História, mas destaca-se desta através de inúmeras diferenças, principalmente no que concerne a mentalidade de seus agentes. Atualmente há um grande movimento de transformação das mentalidades e a História, bem como a Arqueologia, não lhe foge à influência. Da História tenta modificar-se a mentalidade do que é considerado "Documentos Válidos", e da mesma forma acontece na Arqueologia. Para a História de outrora, Documentos Históricos eram apenas os documentos escritos, os quais passaram da História Militar para uma mais abrangente, que é a História da própria humanidade como um todo. A Arqueologia, por seu turno, deixa de prender-se aos tesouros e às grandes criações humanas do passado glorioso - Antiguidade Clássica - para dar mais atenção a objetos de estudo mais singelos e, até a pouco tempo, desconsiderados, como é o caso dos objetos e ferramentas líticas. Duas lutas se travam: a História deseja deixar de ser uma mera forma de narrar acontecimentos, e a Arqueologia deseja deixar de ser uma mera forma de encontrar - e classificar - objetos de colecionadores.

(CONTINUA...)

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