terça-feira, 7 de agosto de 2007

ARQUEOLOGIA: Definições (parte 2)

"A arqueologia nos fascina por oferecer uma visão de modos de vida perdidos no tempo, embora constituam, ainda hoje, parte integrante de nossa herança cultural. Aprender sobre os antigos egípcios, assírios, incas ou astecas é uma forma de eludir tensões geradas por deficiências econômicas, carências alimentar e conflito social. Entretanto, existem rações mais cadentes para impulsionar a investigação arqueológica. Satisfaz-me particularmente tornar este livro aces´sivel a leitores brasileiros porque permite refutar a ilusão de que as conquistas dos habitantes pré-históricos desta imensa porção do continente sul-americano não têm qualquer relevância para a solução dos problemas contemporâneos do Brasil." - Betty J. Meggers, América pré-histórica, p.11.

Talvez a maior diferença entre a História e a Arqueologia esteja na definição que encerra estes dois termos: a História inicia-se, segundo sua própria convenção, à partir do momento em que o ser humano registra, por escrito, fatos e eventos relevantes para seu povo. Tudo o que vem antes da História, registro escrito dos acontecimentos, chama-se pré-história. Desde os primeiros registros escritos da mais antiga civilização até os dias de hoje, muita coisa mudou na mentalidade do historiador, de modo que "documento histórico" já não é mais um documento escrito, mas qualquer tipo de registro que faça referência a um evento, acontecimento ou personagem. São, portanto, documentos históricos, os documentos escritos, seja de qual natureza for, as imagens estáticas (pinturas, fotos, esculturas, vitrais, etc) e dinâmicas (filmes), músicas, contos e tantos outros. Fala-se, inclusive, da História Oral, o que é uma grande inovação destes tempos atuais.

Não é possivel dizer que a Arqueologia trata, então, somente das coisas da pré-história. A arqueologia pode aplicar-se aos mais diferentes períodos da História e aos mais diferentes momentos da raça humana. O que torna a Arqueologia especial é o fato de que ela, por suas tecnicas e por seus métodos, consegue capturar, de objetos de estudos inusitados, informações que não são, de modo algum, obvias. Diferente dos documentos comumente utilizados pelos historiadores, como é o caso dos documentos escritos e imagens, cuja informação está estampada no próprio objeto, os objetos de estudo do arqueólogo não apresentam, num primeiro plano, informações especificas sobre quem o fez, quando foi feito e por qual motivo fora feito.

Exemplos:

Ao deparar-se com um artefato lítico em perfeito estado de conservação, até mesmo um historiador poderá dizer se tal artefato trata-se de uma lança ou de um machadinho. Entretanto, este mesmo historiador não saberá dizer que tipo de tecnica fora utilizada para produzir tal ferramenta ou mesmo que tipo de cultura pertencia seu autor. Esta situação agrava-se, então, quando este mesmo historiador encontra-se no meio de uma Oficina Lítica. Este sítio arqueológico irá apresentar centenas de lascas de diferentes tipos de "pedra" e, muito provavelmente, restos de cerâmica. Um arqueólogo experiente irá identificar, com facilidade, o tipo de mineral encontrado bem como a natureza do que estava sendo feito apenas pelo estudo das lascas. Ele saberá dizer, ao encontrar um núcleo de sílex, de que modo o homem pré-histórico o trabalhava. Como segurava para lascar, onde dava o primeiro impacto e o que, provavelmente, estava sendo feito. Dos restos de cerâmica ele poderá identificar a cultura deste grupo, observando a expessura, a textura, a coloração e detalhes da modelagem. Tal arqueólogo saberá como ele assava a massa e mesmo como ela era feita e a que se destinava. Observando as ruinas de uma construção, um Arqueólogo poderá dizer o tempo em que fora erguida e quem foram seus autores. Ele saberá dizer a tecnica utilizada a qual a provável finalidade de seus cômodos, se este for o caso. Conhecendo uma determinada cultura, o arqueólogo também conhecerá os métodos, meios e tecnicas empregadas por ela na confecção de seus bens móveis e imóveis, seja em que tempo for, seja onde for.

A Arqueologia torna-se extremamente importante pois serve como meio de buscar, e interpretar, uma informação do passado cujos autores já não se encontram mais presentes ou, conforme o caso, em condições de prestarem as devidas explicações e/ou quando, em outra situação, a informação fornecida pelo objeto não é tão "inteligivel" quanto se espera. Talvez seja, por estes fatores, que a Arqueologia é tão presente no estudo dos povos e das civilizações pré-históricas e, é claro, tão facilmente ligada a elas pelo senso-comum.

(Continua...)