segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Expedição à João Câmara e Pureza

Jipeiros e Igarn realizam com sucesso expedição a Pureza e João Câmara*

Alguns jipeiros natalenses realizaram neste domingo, 9, uma das mais edificantes expedições que a comunidade fora de estrada do Rio Grande do Norte já vivenciou em benefício desta unidade federativa. Trata-se da expedição que os levou a conhecer as nascentes do rio Maxaranguape, situadas nos municípios de João Câmara e de Pureza, que eles conheceram na companhia de outros conterrâneos interessados em verificar “in loco” as condições ambientais em que elas se encontram.

Na viagem de volta, o comboio trouxe uma bagagem rica em termos de cidadania a envolvimento com as questões sócio ambientais que devem preocupar a todos os norte-rio-grandenses. Constatou que a poluição ambiental agride violentamente os dois maiores açudes existentes em João Câmara, o “Grande” e o de “Pedra D’água”, conheceu “in loco” uma comunidade amo mesmo tempo indígena e quilombola que enfrenta sérias dificuldades e tenta dar a volta por cima com seus próprios meios e se deparou com duas situações que se destacam na origem do Maxaranguape.

O rio tem uma nascente sazonal que, de tão sujeita a variações, torna difícil precisar, na época de estiagem, o ponto exato em que se localiza o olheiro, na localidade de “Buraco Seco”, em João Câmara, e quarenta quilômetros adiante nasce outra vez com a maior pujança imaginável, na famosa fonte de Pureza, situada em pleno centro da área urbana a que dá nome e caracterizada como uma das maiores atrações turísticas do interior do Rio Grande do Norte.

CARAVANEIROS

Sétima expedição a nascentes de rios potiguares promovida pela Trilhamiga, a viagem contou com a participação do diretor geral, engenheiro Celso Veiga, e de técnicos do Instituto de Gestão de Águas do Rio Grande do Norte (Igarn), assim como de integrantes do Natal Land Clube e do Natal Jeep Clube, entidade ainda em fase de fundação, e de outras instituições da sociedade civil.

Foi o caso da Sociedade Norte-rio-grandense de Arqueologia e Meio Ambiente (Sonarq), por intermédio de seus presidente e diretor, professores Walner Spencer e Henrique Rodrigues, respectivamente, e do Comitê Hidrográfico da Bacia do Pitimbú (CHB-Pitimbú), que se fez representar por seu presidente, o engenheiro agrônomo Marco Antonio Dantas.

A secretaria estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos integrou o comboio por intermédio da jornalista e pedagoga Laélia Maria Lira Ferreira de Mello, especialista em meio ambiente e políticas públicas, e aluna de curso de especialização em gestão normativa de recursos hídricos.

Entre os jipeiros que integraram a comitiva destacam-se o presidente e um diretor do Natal Land Club, engenheiro aeronáutico Levy Pereira e professor e técnico em petróleo Job Azevedo, respectivamente; e três integrantes da Trilhamiga: o economista Arthur Nascimento e esposa, Lílian; a universitária Solange Andrade Pereira e o jornalista Roberto Guedes, coordenador do grupo.

Realizada quase dentro do horário previsto em quase totalmente todos os seus estágios, como missão de conhecimento e conscientização, a viagem contou com a decisiva colaboração do advogado e escritor Aldo Torquato, ex-prefeito de João Câmara que recepcionou os jipeiros e demais integrantes do comboio com o café da manhã na casa grande de sua fazenda, em plena área urbana de João Câmara, e guiou o comboio durante toda a permanência deste em seu município.



Visão frontal da casa grande da fazenda do sr. Aldo Torquato, em João Câmara: o solo em questão apresenta caracteres peculiares de grande relevância aos estudiosos da arqueologia, pois é rico em silex e outros fragmentos de rocha, além de apresentar elementos valorizados pelas etnias indígenas denominadas "tapuias" como campo de plantio e acampamento.


A pedra menor: de coloração avermelhada, é um fragmento de sílex, lascado, mas não por ação humana direta; fora lascada após ser pisada pelo gado.
A segunda maior: rocha "comum"; de coloração acinzentada e de aspecto geral semelhante ao cimento, não era utilizada para produzir armas e ferramentas, mas possuía grandes possibilidades de uso para sanar diversas outras necessidades.


Numa localidade próxima a um dos açudes de João Câmara, são encontradas poços e piscinas naturais, esculpidas em rochas por ação da natureza, no decorrer de milhares de anos. Piscinas e poços naturais, como estes, são de grande relevância à arqueologia (bem como paleontologia) pois, por encontrar-se em regiões que sofrem com secas periódicas e por acumularem água fluvial, atraiam animais da mega-fauna o que, por consequencia, também atraía a atenção dos caçadores pré-históricos.

Tais piscinas e poços funcionavam como armadilhas naturais: os animais, incautos, ao buscarem água, acabavam por cair dentro destes poços e, muitas vezes impossibilitados de saírem, acabavam por morrer. A carcaça afundava e, sobre ela, a lama precipitava-se. A lama que se depositava sobre a carçaca acabava por preservar os restos mortais dos animais vitimados pelos poços, bem como também preservaria, com grande possibilidade, qualquer indício de presença humana que porventura alí houvesse.


Visão da estrada: saíndo de João Câmara e indo de encontro às comunidades formadas por descendentes de indígenas da etnia Tapuia. O destino final, após este trajeto de trilhas, fora a nascente de Pureza, assunto trabalhado com maior riqueza de detalhes em SONARQ - Meio Ambiente.


As ruínas de um antigo engenho, localizado num aregião de trilhas pouco depois de Pureza. A "torre" em questão é a chaminé por onde saia a fumaça da queima de madeira, utilizada no processo de produção de açucar. Adiante, de coloração branca, fora o que sobrou das poderosas paredes que caracterizavam construções tão antigas e imponentes.


Plataforma onde se situava o maquinário que extraía o sumo da cana-de-açucar, o famoso "caldo de cana". Já não há mais o maquinário, e o restante de tão importante patrimônio histórico também encontra seu fim nos dias que se sucedem, ao sabor do tempo e do Tempo...


As valas que davam para as fornalhas onde era queimada a madeira que gerava o calor necessário para aquecer as cubas onde era feito os derivados da cana-de-açucar (açucar mascavo, rapadura, melaço...).


Estas bocas de fornalhas dão de frente a um diminuto regato que passava às "costas" da edificação. Provavelmente esta seria a frente da construção, contudo, para os fins de identificação, dentro da pespectiva de quem tem por frente à face que dá para a estrada, este seria o fundo do engenho. Tal regato tinha a função de higienização do ambiente e por ele eram escoados os dejetos resultantes do processo de produção do açucar.


Ao fim do dia, uma das mais belas e reconfortantes visões. Mesmo este momento possui alguma relevância, mesmo que poética, para um arqueólogo: o céu é um dos elementos ambientais que, mesmo após milhares de anos, não alterou-se em sua configuração e, não é dificil dizer: se somente os seres humanos possuem sensibilidade suficiente para apreciar tal paisagem, então o homem do raiar dos dias da humanidade e o homem de hoje já deitaram seus olhos, com a mesma impressão, para este mesmo cenário...


(*) o trecho em azul fora extraído, na íntegra, do "Notícias de Jipeiros", edição N° 585/2007 de segunda-feira, 10 de dezembro de 2007.