sexta-feira, 23 de maio de 2008

Encontro Internacional de História

Sonarq apresentará relatório em encontro internacional de História

Um novo resultado da ação conjunta que jipeiros natalenses vêm desenvolvendo há quase dois anos em parceria com arqueólogos conterrâneos está sendo ultimado para chegar ao conhecimento da comunidade científica durante o segundo “Encontro Internacional de História Colonial”, agendado para setembro próximo na capital potiguar.

Trata-se de um completo relatório sobre a situação dos sítios históricos e pré-históricos que cientistas mobilizados pela Sociedade Norte-rio-grandense de Arqueologia e Meio Ambiente (Sonarq) identificaram e avaliaram em expedições que compartilharam com jipeiros atraídos para este projeto pela Trilhamiga, grupo de “off roaders” que começou a se organizar em meados de 2006.

O anúncio da apresentação do trabalho durante o evento foi feito ontem pelo presidente da Sonarq, o historiador, antropólogo e arqueólogo Walner Barros Spencer, em correspondência que enviou ao jornalista Roberto Guedes, criador e editor de Notícias de Jipeiros e participante do projeto de pesquisa.

RESUMO ACEITO

Segundo Spencer, a organização do segundo “Encontro Internacional de História Colonial”, que terá como cenário a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), acaba de aceitar um resumo do trabalho que lhe foi encaminhado pela Sonarq.

Dois caminhos foram adotados em função desta parceria. Num, que praticamente só envolveu a cúpula da Trilhamiga, a princípio, e desde então expoentes do Natal Landclube, levou jipeiros e arqueólogos a promover expedições de cunho histórico. Noutra, a Sonarq e jipeiros se empenharam em conhecer as nascentes dos rios que banham o território do Rio Grande do Norte.

Lastimavelmente, a segunda trilha aparenta ter deixado de ser palmilhada desde o início de março último, quando a Trilhamiga foi absorvida pelo Natal Jeep Clube e esta entidade não revela em relação aos rios o mesmo interesse que vetorizava as ações do grupo.

Como Notícias de Jipeiros informou sucessivas vezes, este trabalho levou jipeiros e arqueólogos, em parceria com o Instituto de Gestão de Águas do Rio Grande do Norte (Igarn), a realizarem inspeções “in loco” nas fontes primárias dos rios Ceará Mirim, Maxaranguape, Pitimbú e Potengí, no caso deste a três lugares apontados como nascentes, e tendia a contemplar muito mais áreas desta e de outras unidades federativas. As nascentes dos rios Açu, Apodi e Seridó, situadas no vizinho Estado da Paraíba, destacavam-se nos planos para 2008.

Enquanto isto, a dobradinha que a Trilhamiga ensejou entre a Sonarq e o Natal Landclube continuou a produzir, como Spencer demonstra na correspondência de ontem, que tem o seguinte teor:

Caro amigo Roberto

Venho informar ao distinto padrinho da parceria científica e cultural entre a Sociedade Norte-rio-grandense de Arqueologia (Sonarq) e o Natal Landclub (NLC), que as pesquisas conjuntas estão indo melhor a cada dia, pois cada expedição na investigação das antigas estradas coloniais da Capitania do Rio Grande, melhora a interação científica, a satisfação de estar contribuindo para o conhecimento histórico de nossa terra, o respeito pela cultura e pelo patrimônio histórico, além, é óbvio, do espírito de respeito e sã camaradagem.

Diversas pessoas participam dos ‘ires e vires’, ‘vai e volta’, ‘tranca e destranca’, ‘anda e para’, ‘espera e segue... e espera novamente’, demandados por quem busca entender, reconhecer, identificar, comparar, percorrer, desobstruir o traçado das trilhas e caminhos da Capitania do Rio Grande ao tempo em que o sábio Georg Marcgrave, um excelente matemático e cartógrafo (dentre outras especialidades) os percorreu, em meados do século XVII, quando da administração do Brasil Holandês por Maurício de Nassau.

O trabalho vai bastante adiantado e já está inscrito para ser apresentado no II Encontro Internacional de História Colonial, a ser realizado em setembro próximo, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Segue o resumo aceito pelo citado Encontro:


‘Marcgrave - trilhas e caminhos coloniais da Capitania do Rio Grande.

A pesquisa busca identificar, reencontrar, recompor e revisitar caminhos e trilhas mapeadas e nominadas pelo sábio batavo Georg Marcgrave, quando de sua estada no Brasil, acompanhando a Maurício de Nassau, administrador da parte do Nordeste brasileiro dominado pela Companhia de Comércio das Índias Ocidentais, no século XVII, em razão da sua extrema precisão cartográfica tanto no que tange aos componentes hidrográficos quanto à apresentação dos elementos sócio-econômicos importantes na época.

Além do entendimento da capacidade de trânsito e movimentação na Capitania, o trabalho ainda objetiva a coleta de dados que permitam a identificação geográfica pontual de estabelecimentos indígenas e/ou europeus, bem como o conhecimento de elementos que desapareceram da paisagem ou da memória histórica, e igualmente, dos impactos ambientais que a natureza dos lugares sofreu desde aquele século.

Como instrumentos metodológicos foram adotados o uso de coordenadas posicionadas por satélites (GPS), fotos de satélite (Google Earth); mapas da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística); mapas municipais, banco de dados em Access, e planilhamento em Excel.

No afã de identificar topônimos esquecidos ou em desuso, a pesquisa englobou o estudo de documentos sobre a doação de sesmarias de terra; história e movimentação indígena na área; topomímia; e, naturalmente, da busca dos conhecimentos e interpretações existentes na bibliografia hodierna e passada, de historiadores e cronistas.

O trabalho prático foi realizado em oito meses de viagens em utilitários Land Rover, com inspeção dos locais mais importantes por caminhada, documentação fotográfica, com edição em Corel PhotoPaint, e apresentação de slides em Powerppoint, tomada de coordenadas por GPS, em uma parceria científico-cultural entre a Sociedade Norte-rio-grandense de Arqueologia e Meio Ambiente, e o Natal Land Clube, ambos sediados na Cidade do Natal’.

Queremos deixar registrado que foi o preclaro amigo – norte-rio-grandense da gema e clara –, quem apostou na chance de aproximar pessoas às quais sabia que iriam levar a bom termo uma proposição.

Assim, fica desde já consignado o nosso agradecimento pelo altruísmo ao incentivar que colegas se unissem para a consecução de um projeto cultural sui-generis, com capacidade de unir história e jipeiros, pelo amor demonstrado do Estado, e pela visão jornalística do alcance cultural e científico do trabalho de pesquisa.

Um grande e fraternal abraço

Walner Barros Spencer”.



Fonte: Notícias de Jipeiros, edição n° 699/2008, publicada quarta-feira, 21 de maio de 2008.

Autor: Roberto Guedes (RG151-DRT/RN).

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Em "Notícias de Jipeiros"

FONTE: Notícias de Jipeiros n° 585/2007, de segunda-feira, 10 de dezembro de 2007.

Expedição também ensejou pesquisas arqueológicas

Até baixa-verdenses que se dedicam a estudar em profundidade seu município se surpreenderam ontem com revelações de cunho antropológico e arqueológico que vieram a público graças à visita que jipeiros fizeram a João Câmara, graças à presença, no comboio, dos professores Walner Spencer e Henrique Rodrigues, presidente e diretor, respectivamente, da Sociedade Norte-rio-grandense de Arqueologia e Meio Ambiente (Sonarq).

Tão logo chegaram à fazenda do advogado, escritor e ex-prefeito Aldo Torquato, que recepcionou os integrantes da caravana com o café da manhã e serviu-lhes de cicerone durante toda a permanência em João Câmara, Spencer e Henrique se separaram do grupo e passaram a caminhar pelas cercanias. Quando retornaram, asseguraram ter encontrado a poucos metros da casa grande da fazenda pequenos instrumentos que remontariam à presença dos índios Tapuias na região.

INSCRIÇÕES RUPESTRES

O impacto do depoimento de Spencer sobre a riqueza arqueológica de João Câmara foi ainda maior quando ele e Henrique começaram a falar sobre a presença de inscrições rupestres na região. Aldo admitiu que não conhecia a respeito, mas informou que uma monografia acadêmica produzida por uma antropóloga que havia estudado a comunidade dos Mendonça, na localidade de Amarelão, destaca a existência de inscrições rupestres na área. O livro em questão, avançou, seria lançado nesta segunda-feira, 10, em plena comunidade que a cientista pesquisou, para depois chegar a Natal.

Adiante, enquanto o “miolo” do comboio cuidava da coleta de amostras d’água no açude Pedra D’água, parcialmente salinizado há alguns anos devido a uma conexão errada que lhe impingiram com um outro reservatório da região, Spencer e Henrique se afastaram, a bordo do Land Rover Defender 110 pertencente ao engenheiro aeronáutico Levy Pereira, presidente do Natal Land Clube, para irem conhecer espaços naturais que mencionaram como “tanques”, dos quais tinham ouvido falar em Natal e onde, segundo lhes constava, havia inscrições rupestres.

FUGINDO DOS POTIGUARES

Na localidade do Amarelão, depois de ouvir depoimentos sobre as origens dos moradores locais, conhecidos como “Mendonça”, Spencer discorreu durante bom tempo sobre como os Tapuias se instalaram no sertão do Rio Grande do Norte como fugitivos dos Potiguaras, índios que preferiam o litoral. Diferentemente destes, que eram agricultores, os Tapuias eram caçadores. Esta característica explica a presença na região, ainda hoje, de instrumentos de caça feitos com pedra.

Ele salientou que, ao lado de todos os investimentos em curso na busca de sustentabilidade para o desenvolvimento dos Mendonça, é imprescindível que se promova um grande trabalho capaz de devolver a auto-estima desse povo. Impressionando-se ao vê-lo expor uma questão fundamental para os Mendonça, professoras que atuam na organização social do grupo pediram-lhe para voltar ao Amarelão a fim de proferir palestra para a população local. Elas querem, que, se possível, Spencer faça um trabalho mais perene em busca do amor dos Mendonça à sua etnia.

Spencer transmitiu ainda mais informações a respeito da presença dos Tapuias em João Câmara quando Aldo Torquato o entrevistou num programa que apresenta semanalmente na rádio AM Baixa Verde, o “Prá Frente João Câmara”, mostrando que esses índios seria os remanescentes dos pioneiros do povoamento humano na região. Elos cálculos de Spencer, os Tapuia deveriam estar no território da atual cidade de João Câmara pelo menos trezentos anos antes de o colonizador português chegar ao Brasil.



Walner Barros Spencer, presidente da SONARQ, e Leo Sodré, presidente do Land Club, em um dos estúdios da Rádio Baixa Verde, ao vivo, falando sobre o comboio que contou com a participação de jipeiros, arqueólogos, jornalistas e com uma equipe do IGARN.


Visão do estúdio onde os convidades falavam ao público vista do estúdio onde a transmição é gerenciada: coisa de louco...


Visão frontal da Rádio Baixa Verda: os integrantes do comboio, após o programa, partem em direção ao ponto de encontro para o almoço.