Jipeiros e Igarn realizam com sucesso expedição a Pureza e João Câmara*
Alguns jipeiros natalenses realizaram neste domingo, 9, uma das mais edificantes expedições que a comunidade fora de estrada do Rio Grande do Norte já vivenciou em benefício desta unidade federativa. Trata-se da expedição que os levou a conhecer as nascentes do rio Maxaranguape, situadas nos municípios de João Câmara e de Pureza, que eles conheceram na companhia de outros conterrâneos interessados em verificar “in loco” as condições ambientais em que elas se encontram.
Na viagem de volta, o comboio trouxe uma bagagem rica em termos de cidadania a envolvimento com as questões sócio ambientais que devem preocupar a todos os norte-rio-grandenses. Constatou que a poluição ambiental agride violentamente os dois maiores açudes existentes em João Câmara, o “Grande” e o de “Pedra D’água”, conheceu “in loco” uma comunidade amo mesmo tempo indígena e quilombola que enfrenta sérias dificuldades e tenta dar a volta por cima com seus próprios meios e se deparou com duas situações que se destacam na origem do Maxaranguape.
O rio tem uma nascente sazonal que, de tão sujeita a variações, torna difícil precisar, na época de estiagem, o ponto exato em que se localiza o olheiro, na localidade de “Buraco Seco”, em João Câmara, e quarenta quilômetros adiante nasce outra vez com a maior pujança imaginável, na famosa fonte de Pureza, situada em pleno centro da área urbana a que dá nome e caracterizada como uma das maiores atrações turísticas do interior do Rio Grande do Norte.
CARAVANEIROS
Sétima expedição a nascentes de rios potiguares promovida pela Trilhamiga, a viagem contou com a participação do diretor geral, engenheiro Celso Veiga, e de técnicos do Instituto de Gestão de Águas do Rio Grande do Norte (Igarn), assim como de integrantes do Natal Land Clube e do Natal Jeep Clube, entidade ainda em fase de fundação, e de outras instituições da sociedade civil.
Foi o caso da Sociedade Norte-rio-grandense de Arqueologia e Meio Ambiente (Sonarq), por intermédio de seus presidente e diretor, professores Walner Spencer e Henrique Rodrigues, respectivamente, e do Comitê Hidrográfico da Bacia do Pitimbú (CHB-Pitimbú), que se fez representar por seu presidente, o engenheiro agrônomo Marco Antonio Dantas.
A secretaria estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos integrou o comboio por intermédio da jornalista e pedagoga Laélia Maria Lira Ferreira de Mello, especialista em meio ambiente e políticas públicas, e aluna de curso de especialização em gestão normativa de recursos hídricos.
Entre os jipeiros que integraram a comitiva destacam-se o presidente e um diretor do Natal Land Club, engenheiro aeronáutico Levy Pereira e professor e técnico em petróleo Job Azevedo, respectivamente; e três integrantes da Trilhamiga: o economista Arthur Nascimento e esposa, Lílian; a universitária Solange Andrade Pereira e o jornalista Roberto Guedes, coordenador do grupo.
Realizada quase dentro do horário previsto em quase totalmente todos os seus estágios, como missão de conhecimento e conscientização, a viagem contou com a decisiva colaboração do advogado e escritor Aldo Torquato, ex-prefeito de João Câmara que recepcionou os jipeiros e demais integrantes do comboio com o café da manhã na casa grande de sua fazenda, em plena área urbana de João Câmara, e guiou o comboio durante toda a permanência deste em seu município.
Visão frontal da casa grande da fazenda do sr. Aldo Torquato, em João Câmara: o solo em questão apresenta caracteres peculiares de grande relevância aos estudiosos da arqueologia, pois é rico em silex e outros fragmentos de rocha, além de apresentar elementos valorizados pelas etnias indígenas denominadas "tapuias" como campo de plantio e acampamento.
A pedra menor: de coloração avermelhada, é um fragmento de sílex, lascado, mas não por ação humana direta; fora lascada após ser pisada pelo gado.
A segunda maior: rocha "comum"; de coloração acinzentada e de aspecto geral semelhante ao cimento, não era utilizada para produzir armas e ferramentas, mas possuía grandes possibilidades de uso para sanar diversas outras necessidades.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4UHJuHnehGthz4zdJJsoJj0k282k5IaOgHi1-VPbCNkjLLKnc6CruSksLjCYF1FgLw-K-vWVFdjpVjP5TiCDk5CSldBXbgDuA4aPnjbkVMSbFFvZQtuPI4nDzOv_mrCHk6-CaLP8TziQ/s400/Po%C3%A7o+natural+007.JPG)
Numa localidade próxima a um dos açudes de João Câmara, são encontradas
poços e piscinas naturais, esculpidas em rochas por ação da natureza, no decorrer de milhares de anos. Piscinas e poços naturais, como estes, são de grande relevância à arqueologia (bem como paleontologia) pois, por encontrar-se em regiões que sofrem com secas periódicas e por acumularem água fluvial, atraiam animais da mega-fauna o que, por consequencia, também atraía a atenção dos caçadores pré-históricos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFuVYeEOm7tW8LPs5lDjqnqtWGeBVMwQTMDSqbff_YS2OmmMyd1lnf4HzcRWcPoxXP6RC9WWrSomSlkqiJ3G5pbS34WaJwi4roFvL8b7ow53x2k9YrOdW5dqk8evGFm0kSfPt-wEW7Ny4/s400/Po%C3%A7o+natural+004.JPG)
Tais piscinas e poços funcionavam como armadilhas naturais: os animais, incautos, ao buscarem água, acabavam por cair dentro destes poços e, muitas vezes impossibilitados de saírem, acabavam por morrer. A carcaça afundava e, sobre ela, a lama precipitava-se. A lama que se depositava sobre a carçaca acabava por preservar os restos mortais dos animais vitimados pelos poços, bem como também preservaria, com grande possibilidade, qualquer indício de presença humana que porventura alí houvesse.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivkREl2yG20bqPAZ9IHHRq6UYK7vy59UlBU_oHcvD5tUbz5iVf3S4sMWKh67PmmPF9efOUDQQaBIFIiHaPjvNOGOs5HIj7343iCA8-iPrAUDRu0xboMsbIMqaYR80XNa6b0AqfthK-uY4/s400/Estrada.JPG)
Visão da estrada: saíndo de João Câmara e indo de encontro às comunidades formadas por descendentes de indígenas da etnia Tapuia. O destino final, após este trajeto de trilhas, fora a nascente de Pureza, assunto trabalhado com maior riqueza de detalhes em
SONARQ - Meio Ambiente.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhze5SstL-2_Z59UScmGVPQGfGzv_Xf-qRH-TjqopxNJsIoz-uuPh6eM3g_f3YDZQqgzUI9srZg9jR7EwUCN0zVBfABJb2hO_kh0dV03ir-p4qyiHzp338h0PJrVryptpcvWa-Rp34QGv8/s400/Engenho.JPG)
As ruínas de um antigo engenho, localizado num aregião de trilhas pouco depois de Pureza. A "torre" em questão é a chaminé por onde saia a fumaça da queima de madeira, utilizada no processo de produção de açucar. Adiante, de coloração branca, fora o que sobrou das poderosas paredes que caracterizavam construções tão antigas e imponentes.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK3LFF6csUZqQsquKjU7NLJyWhpPuyLpchOn4ZdQCFVL5iFk0XX4OJWjmDpw11QpvaBVsDkeUuf0lUxBRfY_ZFFkY8PniqihoB80-OqkZzGgaeOAGNbn4KTLbs22DH5fZuUKiwFwOM6S8/s400/Engenho+maquinas.JPG)
Plataforma onde se situava o maquinário que extraía o sumo da cana-de-açucar, o famoso "caldo de cana". Já não há mais o maquinário, e o restante de tão importante patrimônio histórico também encontra seu fim nos dias que se sucedem, ao sabor do tempo e do Tempo...
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1oI8YKjs5ecMBvRUAWYjwkZ7hvoGidfeVckpEjwDV9PUwxj_vN3lxS5qgGh4_O31DzcJXZjyv6yHQQ9vAi7Of4LUlpPzY6X0t3r1VNN15jaSwK5BnnrsiEwASwp6UJV60CbRzrpZ9TIM/s400/bocas+das+fornalhas.JPG)
As valas que davam para as fornalhas onde era queimada a madeira que gerava o calor necessário para aquecer as cubas onde era feito os derivados da cana-de-açucar (açucar mascavo, rapadura, melaço...).
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIKu3CNVlLmL2TZGb1N5avxuYP1hzQtDAXIZtDi0ubX96F4ngrsPHThULgksmiroC9eb3l5U6vxWfbHRtTYw8w_rttt4ehR6ryqn-cQ-7Gs6oAa8YfEYeJi2pWcE34c5srtxo1ykvKxBM/s400/bocas.JPG)
Estas bocas de fornalhas dão de frente a um diminuto regato que passava às "costas" da edificação. Provavelmente esta seria a frente da construção, contudo, para os fins de identificação, dentro da pespectiva de quem tem por frente à face que dá para a estrada, este seria o fundo do engenho. Tal regato tinha a função de higienização do ambiente e por ele eram escoados os dejetos resultantes do processo de produção do açucar.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJbJZgYTamFMmCzBl4GomzBY0feyzn5MDKLsSe56TOuMgKLg5Ex-MVyxDj6xMFf85Z0zGlZAzdOyO1oL3kRk9UQwmVFXe-HVNnHDE127pFIRflJUJopuz81NNApvjUx9NqjCpkkWWMi24/s400/Por+do+Sol.JPG)
Ao fim do dia, uma das mais belas e reconfortantes visões. Mesmo este momento possui alguma relevância, mesmo que poética, para um arqueólogo: o céu é um dos elementos ambientais que, mesmo após milhares de anos, não alterou-se em sua configuração e, não é dificil dizer: se somente os seres humanos possuem sensibilidade suficiente para apreciar tal paisagem, então o homem do raiar dos dias da humanidade e o homem de hoje já deitaram seus olhos, com a mesma impressão, para este mesmo cenário...
(*) o trecho em azul fora extraído, na íntegra, do "Notícias de Jipeiros", edição N° 585/2007 de segunda-feira, 10 de dezembro de 2007.